Quando falamos de partidas, estamos falando da chegada também.
Na chegada até esse mundo, na chegada em outros mundos, ou apenas na partida para outros mundos. Sim, estamos falando da Morte!
“Somos diferentes vestidos de gente nesta fase terrena”.
Quando ouvi isso pela primeira vez, fez muito sentido. Me reconfortou, me deu tranquilidade para continuar vivendo, sem medo da partida. Afinal, me parecia que então eu ia trocar de roupa e ia para outro lugar!
Mas fiquei pensando… quando somos pegos de surpresa a dor parece maior, mas e quando não somos pegos de surpresa, a dor é menor? Talvez menos previsível.
Sabemos que a partida faz parte do processo. Sabemos que a doença está comendo aquele ser, sabemos muitas vezes que talvez fique acamado para sempre, então racionalmente não queremos que aquela pessoa sofra mais, e damos uma espécie de autorização (!) para que ela possa partir. Assim nos autorizamos ao mesmo tempo, a entrar em contato com aquele sentimento doloroso e que mal falamos o nome, porque parece que é uma doença contagiosa…, nos arrepiamos, fazemos caretas e pedimos para parar!
Gostamos tanto daquele ser. Iremos sofrer naquela partida! Sofrer porque somos apegados e genuinamente egoístas. Se ele for eu sofro e se ele ficar, sofremos todos.
Será que em algum tempo, conseguiremos olhar a passagem, como uma simples parte da vida? Será que poderemos compreender isso de forma mais tranquila? Como um evento natural? Como a chuva ou o sol?
Talvez se mudarmos desde muito cedo, na educação dos nossos filhos, a forma como fazemos a leitura deste momento natural, teremos uma chance de realmente compreender e acolher esse sentimento, culturalmente visto de forma negativa.
– Jamile, um papo desse na primeira reflexão do ano?
– Sim. Vamos começar diferente este ano? A proposta é essa, começar a rever coisas que não gostamos de falar, pensar ou conectar. Feliz Ano Novo!